sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Queria falar de algumas coisas simples, coisas do meu dia-a-dia, que hoje são normais pra mim, mas que no começo me causaram um certo estranhamento.

Primeiro, onde eu moro. Num daqueles típicos predinhos parisienses, sexto andar, num "studio", como chamam aqui. Neste andar moravam as antigas serventes, digamos assim.
Hoje, imigrantes, estudantes, solteiros e jovens casais sem muita grana ocupam esses pequenos quartos compactos, que comportam por vezes ducha, toalete, pia e, em alguns casos, um fogão, um frigobar...
Acesso? Por uma interminável escada, estreita, toda de madeira. Não, não temos elevador. Ele é restrito aos moradores do cinco andares anteriores. Por isso eu consigo manter a forma :) Aula de step obrigatória, todo dia.
Quando cheguei, e a dona da casa foi me mostrar meu studio, fiquei estupefata. O que era aquela ducha "dentro" do quarto e aquele toilete num minicubículo, "dentro" do quarto também?
Juro que nessa hora eu pus a mão na cabeça e pensei: no que eu estava pensando quando larguei meu trabalho, meu namorado e meu apê pra me aventurar em outro país?
...
Dois meses depois, eu acho meu studio supercool, pois não pago um tostão (quer dizer, moro em troca de cuidar das crianças algumas horas por dia) e tenho ducha e toilete no quarto! Que demais! Pelo que andei escutando, grande parte das pessoas que moram nesses studios divide a "fossa" (sim, isso mesmo) com os outros vizinhos. Então, eu estou no céu!

Depois eu continuo. Estou indo pra St. Michel comer um kebab.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Pobre criança, Guillaume, que fica o dia todo em casa com a babá, uma imigrante da Costa do Marfim que vive em Paris há uns 20 anos.
Ela nao tem paciência, coloca o pobre no berço durante 6 das 8 horas que passa aqui; vez ou outra grita, creio que até bate, quando ele começa a querer sair de lá pra brincar.
Perdeu e continuará perdendo longas horas de vida até que enfim vá à escola, onde brincará o dia todo com outras crianças, como ele.
é por isso que, quando ela vai embora e ele fica comigo, deixo correr pela casa, deixo fazer suas traquinagens, para que ele tenha alguns momentos de alegria e liberdade pra se expressar.
Pobre criança.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Pobre Renata, tomando um café, sozinha, em Montmartre, domingo.


Esse fim de semana minhas amigas viajaram, e eu fiquei sozinha.
Fazer certas coisas assim é um exercicio de independência, uma tarefa nao muito facil, pelo menos pra mim.
Pensei, pensei e resolvi caçar quinquilharias nas lojinhas de souvenirs perto de Notre Dame.
Entrei e sai de umas 10 ou 15, procurando quem tinha o menor preço por uns pôsteres belle epoque, que acabei comprando em Montmartre, no dia seguinte.

Mais tarde, passei no mercado, pra garantir minha boia de domingo (dia em que nenhum mercado abre aqui), comprei minha baguete, manteiga com sal, Coca-Cola e voltei pra casa. Era cedo, talvez umas 19h30, e me bateu um desespero por me estar sozinha, privada de fazer coisas divertidas, como ir a algum barzinho em St. Michel...
Em vez de ficar em casa amargurada, fui bater perna na Champs Elysées, perto mas divertido, e entrei na Sephora, uma rede de perfumaria gigante, onde fiquei mais umas 2 horas escolhendo meu proximo perfume (que acabei nao comprando).
Pensei em ir ao cinema, mas perdi a sessao das 19h, e a das 21h terminaria muito tarde, pra depois eu ter que voltar de metrô de St. Lazare.
Voltei, degustei meu pao e vinho e umas 22h30, como de costume, fui dormir.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Transporte e segurança, duas coisas básicas, que fazem parte do dia-a-dia e deveriam ser comumente eficazes. Não no Brasil. Aqui são.
Ontem, como quase toda noite, saí pra dar a minha clássica voltinha, umas 21h. A Avenue des Ternes não é das mais movimentadas de Paris, nem das mais calmas. Mediana, eu diria.
Bom, o que eu quero dizer é que eu mal estava me dando conta de que eu ando sozinha, à noite, com bolsa e MP3 no ouvido, tranqüilamente. Não tinha parado pra pensar que eu não faria isso em Sampa. A cidade é segura, embora as más línguas digam que não é bem assim...
E o sistemas de transportes... Seria perfeito, não fosse o mau cheiro e a sujeira. Nesse quesito, SP ganha... só nesse. A malha aqui é muito rica, tem uma estação a cada 300 metros.
Ah, se os políticos brasileiros tivessem boa vontade como os daqui...

Esses sao: MP3, Jornal e Vinho Francês, meus companheiros inseparaveis. E minha cama.

Não, não virei alcoolatra. Apenas peguei o hábito francês de tomar uma taça no início da noite; mas nem toda noite, é claro.

A música é uma coisa essencial. Parece tão fútil, mas tem o poder de levantar o astral. Pelo menos tem funcionado assim comigo, quando estou precisando de uma dose de ânimo.
O jornal com a meteo, uma espécie de ritual francês, as notícias do dia, uma boa forma de aprender a língua.
Minha cama, caminha! Tão confortável, quarto quentinho, ela me abraça toda noite pra dormir!
Declaração de amor à minha cama: dei muita sorte de ter encontrado uma coisinha tão confortável como você!
Que mais? Comprei Black Coffee, Sarah Vaughan, dias depois que cheguei. Ouço muito. Combina com a cidade, que tem um ar intelectual.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Livre

Acabei de voltar da prefecture, onde fui fazer meu exame médico e pegar meu titre de séjour. A partir de agora, até julho, estou livre, sou uma imigrante legal. Posso procurar outro trabalho, se eu quiser. Talvez eu o faça, porque cuidar de criança nao é a minha praia... Embora eu tenha algumas regalias aqui em casa, eu até teria coragem de me aventurar em outro trabalho.
Quem sabe... Vou pensar, porque nao tenho nao a perder. E estudante tem direito a algumas horas de trabalho. é a lei!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Fomos eu, a Ana e a Angélica, minhas amigooonas brasileiras, à Euro Disney, sábado.
Eu amei. Teoricamente posso ser completamente anti-mickey-mouse, mas na prática... Eu me esbaldo... Tudo muito bem-feito, a fantasia materializada. Banho de adrenalina nos miolos.

Nossa, acabei de ter uma impressão estranha escrevendo... Estou usando termos em português que não sei mais se existem. "Esbaldo", "materializada"... ça existe? Alguém me ajude...
Alguma coisa está acontecendo comigo, ando trocando as bolas, às vezes um termo em português me falta quando eu e as meninas estamos conversando ("me falta", isso também não existe...).

Engraçado o poder da necessidade de adaptação. Quando eu cheguei, lembro que fiquei desesperada quando a "mãe" começou a conversar comigo, porque eu não entendia nada. Fazia que sim com a cabeça pra não parecer tão perdida, pra ela não ter uma impressão negativa de mim... (a falsa impressão verdadeira que eu não falava francês!!)
Quando liguei a televisão então, desespero maior ainda! Nao entendia uma só palavra! Em suma, estava sozinha...
Eu lembro que foi uma guerra de nervos. Eu ligava a TV, escutava, escutava e pensava: você vai aprender, você vai entender, você precisa entender, você vai aprender..., como se eu estivesse dando uma ordem pro meu cérebro. E juro, 1 mês e 15 dias depois, eu entendo uns 70%. Virou uma questão de vocabulário agora, coisa que não é nada fácil também. Em média, assimilo umas 3 novas palavras por semana. Parece pouco, mas não é.
As aulas estão sendo ótimas, e é lá onde mais consigo enxergar minha evolução.

Tudo isso pra dizer que adorei o parque...

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Les foules

Reparei que há muitos loucos aqui. Louco louco, doido de pedra, com problemas psiquiátricos.
Não sei se em lugares onde o clima é indócil existe uma tendência maior ao desenvolvimento de doenças mentais; pode ser. A cidade tem cerca de 2 milhões de habitantes e, no meio dessa pequena multidão, esse fato se evidenciou...
Entro no metrô, sento e daqui a pouco vejo alguém falando alto. E sozinho.

Outro dia, voltando pra casa depois de umas voltas pelo centro comercial de La Defense (pq a palavra shopping não existe aqui. Bravo, franceses!), vi uma criatura bizarra no metrô:
era baixo, atarracado, tinha cabelo crespo como que enrolando todo o pescoço e descendo pelo tórax, mal dando pra ver o rosto, não sei se era homem ou mulher... Talvez tivesse aquela doença chamada, acho que, Lupus...
Eu fiquei horrorizada, tentando imaginar como aquele ser se sente, se ele já se acostumou aos olhares curiosos e repulsivos... Sei lá, na Europa ainda deve ter muito "cruzamento" intrafamiliar, como na Idade Média, entre as coroas, e por isso esse tanto de perturbações genéticas e psíquicas...
No Brasil, o povo pode ser feio, mas é vira-lata, resistente.

Também vejo muitas pessoas pedindo esmola, muitas destas são mulheres vestindo burca. Árabes, pêut-être.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Muitos imigrantes, muitos.
No metrô, o que mais se ouve são pessoas falando línguas que não o francês. A propósito, o mais dificil em Paris é um francês.
Compreensível. Estamos numa metrópole (e que...), perto da Ásia, da África, do Oriente Médio. Muitos árabes, muitos. Muitos turistas japoneses, muitos restaurantes vietnamitas, brasileiros demais.
Todo dia os escuto, nas estações de metrô, nos principais pontos turísticos. Ou nos não tão principais assim.
E não puxo conversa. Apenas observo, sem que eles percebam que mais alguém os compreende. Que vivam suas aventuras pela Europa sem notar que não estão sozinhos!
Porque mochilar noutro continente deve ser uma aventura e tanto. E, nesses momentos, o mais legal é pensar que você precisa se virar, que ninguém pode te entender, que a experiência é so sua.

Mito: os franceses nao tomam banho. Alias, o metrô cheira a perfume francês todas as manhas...
Verdade: carregam a baguete debaixo do braço, deliciosamente deliciosa!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Digamos que eu esteja atravessando uma nuvem, e entrei em turbulência.
Dias um pouco... como posso dizer? Ando um pouco blue...
Sei lá, pode ser TPM... Espero.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008


Ontem de manhã fui ao Puces de Vanves, um mercado de pulgas no sul de Paris.
Cheio de velharias, vestidos bizarros, sapatos do arco da velha, vitrolas dos anos 1920, toda sorte de quinquilharias. Tipo a parte de antiguidades da feira do Centro de Convivência, em Campinas.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Vestiário

Estava reparando outro dia: o vestiário dos meninos, onde os moleques fazem esporte de terça e sexta-feira, vive cheio de nounous, mulheres. E eles não ficam envergonhados com a nossa presença. Agem com total naturalidade.
Agora, me pergunte se algum papa entra no vestiário das meninas...

Será que isso já significa alguma coisa?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Aniversário

E, assim, o plano se realizou.
27, dia 7, em Paris.
Não vou esquecer.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008


Tão valorizado um dia de sol aqui...
Saí de casa procurando um lugar aberto pra andar ao sol.
Fui à Pont des Arts, às margens do Sena, e, lá, uma multidão contemplando o dia...
A beleza da cidade fica mais evidente.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Carnaval

Hoje eu fraquejei.
Tava almoçando e, na TV, o carnaval do Rio.
Nao consegui engolir o choro.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Louvre


Este é o Louvre. Fui conhecê-lo ontem, pois grande parte dos melhores museus de Paris é gratuita no primeiro domingo do mês (o português tem umas regras de concordância péssimas, mas voilà...).
Nem preciso dizer que tinha gente saindo pelo ladrão!
O povo se acotovelando pra ver e fotografar o sorriso da Mona Lisa... hehehe...
Lógico que eu estava no meio, né? hehehe... E garanti a minha foto - que ficou péssima.
Legal, suntuoso, vi a tal múmia (a parte do Egito Antigo é a melhor!!), o apartamento de Napoleão III (tão luxuoso que beira o brega), Vênus de Milo etc.
Depois de 4 horas me perdendo por aquelas salas, voltei pra casa très fatiguée, comi uma coisinha e, do nada, decidi ver outro museu, também gratuito aos domingos: o Musée national d'art moderne, que fica no Centre Pompidou, Le Halles, uma região bem turística, mas graciosa.
Bom, simplesmente AMEI. Juro que eu gostei mais que do Louvre.
Sei lá, pra mim a arte contemporânea tem algo a mais: ela intriga, causa risos, gargalhadas, espanto,
de tão... bizarra!
Vi Matisse, vi Picasso, vi Delacroix, vi outros menos conhecidos e tão criativos e ousados quanto.
Me lembrei da Bienal, em Sampa...
Ahhh, saudade perturbadora.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

1 mês

Há exatamente 1 mês eu chegava à França. Depois de perder a conexão em Amsterdam e de esperar 4 horas pra poder chegar a Paris (não esquecendo que o piloto do vôo Amsterdam-Paris fez todos os passageiros descerem, porque o avião fazia muuuito barulho, anunciando: "Sorry, but I don't trust this airplane..."), meu ânimo já não era grande.
Eu estava com muito frio, era noite, eu não conhecia o lugar nem as pessoas com quem ia morar.
Já não estava mais certa da minha decisão. As saudades começavam a tomar o lugar do entusiasmo...
A noite de 2 de janeiro de 2008 foi, com certeza, uma das piores da minha vida.
Mas... nada como o tempo. Nada! Hoje estou bem. Certa da minha decisão? Talvez.
Fato é que fui completamente engolida pela experiência. Não sei que outras palavras utilizar...
Estou mais que adaptada, pois contemplo Paris a cada segundo, e menos que plena,
porque certas coisas me faltam.
Estou aproveitando cada momento livre para andar, andar, andar.
Conhecer, conhecer, conhecer.
Estou imersa.
Me entreguei à minha escolha.